#PRESIDENTE_DE_MOÇAMBIQUE🇲🇿 Mais saídas que chegadas: a diplomacia de Daniel Chapo nos primeiros dez meses de governação
Escrito por Lucia Mucave
Em 10 meses de mandato, o Presidente da República, Daniel Francisco Chapo, protagonizou uma agenda internacional marcada por mais de 20 viagens ao exterior, contrastando com menos de 10 visitas de Chefes de Estado e de Governo estrangeiros a Moçambique. O desequilíbrio entre as saídas e chegadas tem despertado o interesse de observadores da diplomacia moçambicana, que buscam compreender o significado estratégico dessa movimentação e o alcance real dos resultados para o posicionamento do país no cenário internacional.
Desde a sua investidura, em Janeiro de 2025, Chapo tem procurado “reafirmar” a presença diplomática de Moçambique no cenário regional e global, com vista a captar investimentos estrangeiros. O Governo justifica a agenda movimentada como parte de uma estratégia de inserção internacional do país, num momento em que Moçambique tenta recuperar a confiança de parceiros e consolidar a sua imagem como destino seguro para o investimento e interlocutor activo nas questões de paz, clima e desenvolvimento sustentável.
Menos de um mês depois de tomar posse, o Chefe de Estado fez a sua primeira deslocação internacional com destino à Adis Abeba, Etiópia, para participar na 38ª Sessão Ordinária da União Africana. Nessa ocasião, Chapo manteve encontros bilaterais com o Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, o Presidente do Ruanda, Paul Kagame, e o Presidente do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD), Akinwumi Adesina, discutindo temas de financiamento ao desenvolvimento, estabilidade regional e integração continental.
MOZA
A viagem à Etiópia foi sucedida por uma visita oficial à África do Sul, país que continua a ser o principal parceiro comercial de Moçambique. Na Cidade do Cabo, o Presidente reuniu-se com Cyril Ramaphosa, Presidente do país vizinho, e participou num fórum com empresários interessados em investir em energia, logística e agroindústria. A viagem teve lugar no mês de Março. No mesmo mês, o Chefe de Estado participou na cerimónia de tomada de posse da Presidente da Namíbia, Ndemupelila Netumbo Nandi-Ndaitwah.
Entre os meses de Abril e Junho, o Presidente reforçou a sua presença na região da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC). Em Abril, deslocou-se ao Zimbabwe, onde participou na Feira Internacional de Comércio, na cidade de Bulawayo, a convite do seu homólogo Emmerson Mnangagwa, onde defendeu o fortalecimento da integração económica regional. Dias depois, deslocou-se ao Vaticano para participar nas cerimónias fúnebres do Papa Francisco.
Em Maio, realizou uma visita de Estado à Tanzânia, a única realizada até ao momento, onde foi recebido pela Presidente Samia Suluhu Hassan. Nessa ocasião, foram assinados quatro instrumentos jurídicos, entre os quais um Memorando de Entendimento sobre o controlo da qualidade de medicamentos, um acordo cultural, e outro sobre o Posto Fronteiriço Único de Negomano-Mtambaswala, destinado a dinamizar o comércio transfronteiriço.
Poucos dias depois, seguiu para Luanda, Angola, onde assinou cinco instrumentos jurídicos de cooperação com João Lourenço, Chefe de Estado angolano, incluindo memorandos nas áreas da educação, cultura, transportes e energia. A visita ao Malawi, em Junho, teve como ponto alto a inauguração da fronteira de Dedza-Calomuè, um projecto com impacto directo na circulação de pessoas e mercadorias. Dias depois escalou o Reino de Eswatini.
O ciclo seguinte de deslocações decorreu na Europa. Em Junho, Chapo participou na IV Conferência Internacional sobre Financiamento ao Desenvolvimento, realizada em Sevilha (Espanha), onde defendeu a necessidade de os países africanos terem acesso justo a fundos climáticos e mecanismos de crédito mais flexíveis.
Logo depois, deslocou-se a Lisboa, Portugal, onde manteve encontros com o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, e o Primeiro-Ministro, Luís Montenegro. Na ocasião, foram abordadas oportunidades de investimento luso em Moçambique, a cooperação académica e cultural, e o reforço da língua portuguesa como instrumento diplomático.
No mês de Julho deslocou-se à Guiné-Bissau para participou na Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), onde reiterou o compromisso de Moçambique com a concertação política lusófona e com os desafios da segurança alimentar. Em Agosto, marcou presença na Cimeira da SADC, em Antananarivo (Madagáscar), onde os Chefes de Estado aprovaram o plano regional de industrialização e transição energética, reafirmando o papel de Moçambique como fornecedor estratégico de energia limpa.
Ainda em Agosto, viajou para Tóquio, no Japão, para integrar a lista dos Chefes de Estado convidados à IX Conferência Internacional de Tóquio sobre o Desenvolvimento de África (TICAD IX). O evento, organizado pelo Governo japonês e a União Africana, serviu para promover investimentos privados em infraestruturas e tecnologia.
Já o mês de Setembro começa com o Presidente da República a visitar Argélia, por um lado, para participar da IV edição da Feira de Comércio Inter-Africano (IATF, sigla em inglês) e, por outro, realizar uma visita de trabalho, que resultou na celebração de seis instrumentos jurídicos de cooperação.
De seguida participou na 80ª Sessão da Assembleia-Geral das Nações Unidas, na cidade de Nova Iorque, nos Estados Unidos da América, onde pediu apoio internacional para a reconstrução de Cabo Delgado pós-conflito.
No mês de Outubro, o Chefe de Estado seguiu para Genebra, na Suíça, onde Moçambique foi distinguido pela Organização Mundial de Meteorologia com o título de “Defensor Eminente dos Sistemas de Alerta Multirriscos”, um reconhecimento pelo investimento nacional em tecnologias de prevenção e resposta a desastres naturais.
Ainda em Outubro, Daniel Chapo seguiu para Zâmbia, onde participou do 61º aniversário da independência daquele país da SADC, e visitou a capital dos Estados Unidos da América (Washington), onde manteve conversações com o Vice-Presidente daquele país e com o Presidente do Banco Mundial.
No princípio deste mês, o Presidente da República deslocou-se à Dodoma, na Tanzânia, para participar na cerimónia de tomada de posse de Samia Suluhu Hassan. Para fechar a semana, Daniel Chapo foi ao Brasil para fazer parte da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas (COP30).
Menos chegadas
Em contraste com a intensa agenda externa, o país recebeu menos de 10 visitas oficiais de líderes estrangeiros ao longo de 2025. Entre os que estiveram em Moçambique contam-se o Presidente do Botswana, Duma Boko, que visitou as cidades de Nampula e Nacala, em Março; a Presidente da Namíbia, Netumbo Nandi-Ndaitwah, que visitou Maputo, em Maio; o Presidente do Zimbabwe, Emmerson Mnangagwa, que esteve em Manica, em Agosto; e o Rei de Eswatini, Mswati III, que também escalou Maputo, em Agosto.
Também visitaram Moçambique, o Presidente do Banco Mundial, que esteve no país, em Julho; o Vice-Governador da Província chinesa de Jiangxi, Chen Junqing, que visitou o país em Outubro; e o Ministro de Estado dos Emirados Árabes Unidos, Sheikh Shakhbout bin Nahyan Al Nahyan, que esteve no país, em Março. As visitas concentraram-se em sectores estratégicos, energia, comércio, transportes, agricultura e segurança regional.
Refira-se que os restantes chefes de Estado e do Governo que escalaram Moçambique, em 2025, vinham participar das cerimónias de tomada de posse e de celebração dos 50 anos da independência nacional. Trata-se de Cyril Ramaphosa e Umaro Sissoco Embaló, da África do Sul e da Guiné-Bissau, respectivamente, que testemunharam a investidura de Daniel Chapo; e Samia Suluhu (Tanzânia), Marcelo Rebelo de Sousa (Portugal) e Brahim Ghali (do Sahara), que compareceram às festividades da independência nacional.
Custo e percepção pública
Embora as deslocações internacionais sejam vistas como instrumento de afirmação diplomática, a sua frequência tem alimentado debate público sobre custos e prioridades. Fontes do próprio Executivo reconhecem que a comitiva presidencial chega a integrar dezenas de pessoas, incluindo ministros, diplomatas, seguranças e jornalistas.
A viagem à Nova Iorque para a Assembleia-Geral da ONU, por exemplo, terá envolvido cerca de 98 participantes, com um custo estimado em 40 milhões de meticais. Grande parte das deslocações envolvem o aluguer de aeronave para o transporte do Presidente da República, uma operação cujo custo financeiro é desconhecido. Por exemplo, a deslocação ao Brasil, na semana finda, foi feita num jato Gulfstream G700 alugada à Qatar Executive, uma divisão de jatos privados do Grupo Qatar Airways.

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